A bicicleta e o Caranguejo - Um Lugar Chamado Alexandra" é o título do documentário produzido pelo cantor e compositor Carlos Madia. Distante do consumismo desenfreado e da falta de tempo dos grandes centros urbanos, Alexandra é um lugar bucólico, no qual ainda imperam valores como a palavra, a amizade e a vivência do coletivo. Viagem no tempo, na qual passado e presente se misturam.
A obra traz, com muita poeticidade, aspectos singulares do antigo distrito, conhecido pela sua estação e simplicidade do seu povo. Costurado com relatos daqueles que dão vida ao lugar e participaram da história, o documentário revela a Alexandra que detém valores como a amizade, os afetos, a família e a comunidade. Facetas que apontam a poesia das coisas mais simples: da bicicleta ao caranguejo.
Com direção dos premiados documentaristas Míriam Cris Carlos e Werinton Kermes, “A bicicleta e o caranguejo” conta também com a produção executiva de Carlos Madia, trilha sonora original e foi patrocinada pela empresa Heringer.
Veja o trailer do documentário aqui:
Para saber mais sobre o documentário acesse o blog no link abaixo:
Nova edição do Cândido discute a relação entre cinema e
literatura
A relação entre literatura e cinema é quase tão antiga
quanto a própria sétima arte. Em comum, as duas atividades têm em seu cerne a
vocação para contar histórias, e este talvez seja o ponto de convergência que
as atrai. No cinema nacional, essa relação também originou obras-primas que se
enraizaram no imaginário popular.
A 14ª edição do Cândido, resgata alguns dos principais
livros nacionais que ganharam as telonas, discutindo qual o resultado da fusão
entre literatura e cinema. Daí a presença de matérias e textos críticos que
falam sobre as adaptações de obras de Nelson Rodrigues e Jorge Amado — dois dos
escritores brasileiros com maior presença em nosso cinema —, sobre clássicos da
literatura — nacional e paranaense — levados ao cinema, além de reportagem que
resgata a história de grandes romancistas que escreveram roteiros. Alguns dos
principais nomes do nosso cinema, como Fernando Meirelles, Braulio Matovani e
Marçal Aquino deram depoimentos sobre o cinema nacional.
O número 14 do jornal ainda traz depoimento de Lourenço
Mutarelli, que participou do projeto “Um Escritor na Biblioteca” em junho, além
de texto de Nilma Lacerda sobre o papel das bibliotecas hoje, na seção “Livro e
Leitura”. Entre os inéditos, destaque para dois experientes autores
paranaenses. A contista Luci Collin discute a Curitiba contemporânea por meio
de sua prosa experimental na seção “Em busca de Curitiba”; já Thadeu
Wojciechowski, um dos poetas mais carismáticos do Paraná, aparece com o poema “enquanto
é tempo”.
Serviço
O Cândido tem tiragem mensal de dez mil exemplares e é
distribuído gratuitamente na Biblioteca Pública do Paraná e em diversos pontos
de cultura de Curitiba. Também é enviado, via correio, a diversas partes do
Brasil. É possível ler a versão online do jornal aqui. O site também traz
conteúdo exclusivo, como entrevistas e inéditos.
Luis Buñuel Portolés é considerado o pai do
Surrealismo cinematográfico e um dos mais polêmicos diretores da história do
cinema. Nasceu em 1900 na aldeia de Calanda, Teruel, Espanha e teve uma
rigorosa educação, estudando durante a infância e adolescência com os Jesuítas.
Luis Buñuel em gravação
Em seguida foi estudar na Universidade de Madrid,
onde teve os primeiros contatos com as vanguardas artísticas da época e morou
na Residência dos Estudantes, onde conheceu e se tornou muito amigo do poeta Federico
García Lorca e de Salvador Dalí, com quem trabalhou junto anos mais tarde.
Na Espanha Buñuel já tinha contato com o cinema, mas
foi quando se mudou para França, em 1925, que iniciou os estudos na Academia de
Cinema de Paris e trabalhou como assistente de direção e roteirista do cineasta
Jean Epstein. Em parceria com Dalí, e com auxilio financeiro de sua
mãe, fez seu primeiro filme, intitulado “Um Chien Andalou” (Um Cão Andaluz,
1929) que rompeu a narrativa cinematográfica tradicional e tinha imagens fortes
e de grande impacto, tanto naquela época quanto nos dias de hoje, como a cena
em que é cortado o globo ocular com uma navalha. Com ele, tanto Bruñuel quanto
Dalí passaram a integrar o grupo surrealista. O curta foi considerado por
muitos como um ataque a Garcia Lorca, de quem havia se afastado por, entre
outros motivos, ter aversão a homossexualidade do poeta. O filme ficou em
cartaz durante vários meses e fez muito sucesso.
Uma das imagens mais perturbadoras do cinema (Um Cão Andaluz)
Logo em seguida foi a vez do espirituoso e violento “L’Âge
d’Or” (A Idade do Ouro, 1930) e, após uma curta temporada em Hollywood, dirigiu
o documentário “Las Hurdes Tierra Sin Pan” (Terra Sem Pão, 1933), que traz como
tema o dia a dia da aldeia Extremadura, na Espanha. A linguagem, os fatos
mostrados e as imagens eram tão fortes e reais, por se tratar de um local
extremamente miserável, que era surreal(lista), mesmo. Porém, o governo da
época alegou que a obra passava uma imagem negativa do país, e a proibiu.
Com a Guerra Civil espanhola, Luis Bruñuel emigrou
para os Estados Unidos onde trabalhou até como dublador para Warner Bros e
depois para o México, mas dirigiu vários outros filmes. Para se ter uma ideia,
no período em que morou no México ele chegou a fazer oito filmes em oito anos.
Buñuel
ainda voltou para Europa, onde dirigiu alguns outros filmes, mas sua última
obra para o cinema foi “Esse Obscuro Objeto de Desejo”, de 1977, depois disso
ele ainda escreveu uma autobiografia e morreu em 1983, vítima de câncer, na
Cidade do México, deixando um legado imenso para a cultura cinematográfica.
Abaixo o polêmico documentário "Las Hurdes Tierra Sin Pan": (Terra Sem Pão, 1932)
"Cara imaginação, o que mais amo em ti, é que tu não perdoas", essa frase de André Breton, mostra qual é o principal foco da arte surrealista. A imaginação é livre, e a sua utilização possibilita novas experiências. A
tentativa de descobrir um homem primitivo, sem a influência da sociedade e suas
regras fez com que o movimento surrealista negasse todas as ideias de valores
como lógica e razão, inteligência crítica, família, pátria, moral e religião. Invés
disso os artistas foram buscar nos estudos psicanalíticos sua inspiração. É
comum encontrarmos no surrealismo a exploração do inconsciente, as narrações
dos sonhos, as experiências com o sono hipnótico, a contra lógica e até um
pouco de humor.
O sangue de um poeta, filme surrealista
A
vanguarda apresenta alguns elementos que reforçam a sua identidade. Formas
baseadas na fantasia, nos sonhos e no inconsciente são obrigatórias dentro de
uma obra surrealista. Também é comum o uso de ilusões ópticas, distorção entre
imagem e sua legenda ou áudio, busca da perfeição das cores. No cinema
surrealista os filmes gráficos e abstratos, a técnica, os jogos de luz e
sombra, a estética e a montagem rítmica são dispensadas. Para compor os filmes os
diretores focavam na mensagem, que não deveria ser entendida diretamente, mas
ser percebida pelo subconsciente do espectador, para isso usavam a não linearidade,
elementos que levavam ao estranhamento do publico e uma perspectiva diferente
da qual o cinema estava acostumado a usar, algumas vezes até cruel.
André Breton um dos pioneiros na arte surrealista,
critica em seu primeiro manifesto, os lugares-comuns e o ato de tornar o
desconhecido em conhecido da forma que estava sendo feita, mostrando que o sonho é uma parte psíquica
considerável que não poderia ser ignorada. Baseado nas
psicanálises Freudianas, Breton afirma que o sonho é contínuo e possui traços
de organização, porém, a memória faz cortes, não leva em conta as transições; O
estado de vigília, que é uma interrupção do sono, causa uma estranha tendência
à desorientação; O espírito humano se satisfaz plenamente durante o sonho, é
inapreciável temos facilidade a tudo. Tudo isso era para ele um grande campo inexplorado
pelo cinema. Breton também acredita que a mistura desses dois estados, o sonho
e a realidade, podiam ser uma espécie de realidade absoluta, que ele denomina
como surrealidade.
"Não é o medo da loucura que nos forçará a largar a bandeira da imaginação", André Breton.
O primeiro
manifesto do surrealismo afirma que o movimento trata-se de:
“Automatismo
psíquico puro, mediante o qual se tem o propósito de expressar, seja
verbalmente, seja pela escrita ou por qualquer outro meio, o funcionamento real
do pensamento. Ditado do pensamento que não sofre o controle exercido pela
razão e que se mantém à margem de qualquer preocupação estética ou moral”
Ou seja,é um método de produção artística que prioriza a atividade
subconsciente sobre a consciente.
Surgido na França na década de 1920, é um herdeiro direto da linguagem
simbolista e da revolução romântica e foi
influenciado por Freud, que acreditava
que o homem deve libertar sua mente e dar maior abertura e importância aos
sonhos, as ideias do inconsciente e ao desejo.
No cinema, os
cineastas quebraram com o tradicionalismo cinematográfico. Demonstram uma
despreocupação total com o enredo e com a história do filme, desconstruindo os
roteiros, afim de obter obras mais livres, mais ligadas aos sonhos e desejos
inconscientes. Proporciona infinitas possibilidades de imagens, ampliando assim
o referencial de informação visual, já que no cinema pode-se reproduzir
livremente e sem limites o pensamento,o sonho.
Existem diversos filmes surrealistas,
e um deles é “A Idade do Ouro” (L’age d’Or, 1930) do consagrado Luís Buñuel
(1900-1983), considerado o maior representante da escola surrealista no cinema.
Cena considerada a mais polêmica do filme Um Cão Andaluz
Um dos filmes mais polêmicos de todos os tempos, é considerado o
primeiro e o mais famoso da vanguarda surrealista, também chamada de
cinema subjetivo por alguns autores. O curta metragem Un Chien Andalou (O
Cão Andaluz) de 1929 é o resultado da parceria entre o cineasta Luis Buñuel
e o Pintor Salvador Dali. O filme foi feito para a elite francesa e apresenta
cenas violentas e anticlericais, se preocupa mais com o ritmo da montagem
rítmica do que com a estética, mostra várias cenas metafóricas. Para alguns
críticos o diretor usa um comportamento antiplástico e antiartísticos para
causar atração e repulsa no público. Outros críticos defendem que seu enredo é
uma viagem à cabeça de uma pessoa perturbada ou de um assassino que transmite
para as imagens a sua confissão. Além disso, o filme usa a linguagem poética e
não linear, fazendo o espectador lembrar o estado de sonho, inconsciente e
fantasia e não a representação convencional, as imagens são apresentadas como
se pertencessem a um pesadelo.
A cena mais chocante e que causa arrepios na
plateia é o homem cortando o olho de uma mulher com uma navalha. Também é
encontrada no filme a visão de mundo do autor de descrédito das instituições
burguesas e religiosas. Isso juntamente com as cenas pouco convencionais, e a
forma de montagem do filme, causou uma reação adversa no público e até hoje o
cinema surrealista não atrai os espectadores com menos repertório ou menos
ligados à arte. O que nos faz perceber que a vontade do autor de fazer uma obra
que causasse repulsa funcionou em algumas partes.
Um filme tão polêmico como esse tem entre lendas e fatos reais suas
curiosidades. Uma delas, é que o filme gerou tantos protestos e indignação onde
foi exibido, que Buñuel passou a temer a plateia e chegou a levar pedras nos
bolsos para se defender. Outro fato curioso é que o filme foi gravado em apenas
15 dias. Polêmicas à parte, o curta de estreia de Buñuel foi um marco
para o cinema de experimentação surrealista e ajudou a abrir caminho para as
inovações nos roteiros cinematográficos.